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Postado 22 de maio de 2023

A polêmica do petit-pavê

Em um de seus contos, Dalton Trevisan rogou pragas – todas as do Egito – ao piso de pedras brancas e pretas, alternadas, desenhando o quê mesmo? Pinhas, balões, flores e setas indicando de onde não vim para onde não vou.

É sazonal a polêmica envolvendo o petit-pavê nas calçadas de Curitiba. Quando as temperaturas baixam, a chuva cai, fina, e o piso se torna escorregadio, o número de reclamações no serviço 156 da prefeitura cresce em proporções geométricas.

Não vá por ali

Em um de seus contos, Dalton Trevisan rogou pragas – todas as do Egito – ao piso de pedras brancas e pretas, alternadas, desenhando o quê mesmo? Pinhas, balões, flores e setas indicando de onde não vim para onde não vou.

Bíblico

Mas o que teríamos em seu lugar? Cidades já foram de terra e lama, de cavalo e charrete, de burro e sombra, de pó e asfalto. (Vieste do antipó, ao antipó retornarás).

Permeável

Aqueles que defendem o mosaico português (como também é conhecido o petit-pavê), argumentam que ele beneficia a cidade, não somente por sua estética, mas também por seu aspecto funcional. “O revestimento é permeabilizante. Ou seja, permite que a água da chuva escorra para o solo”, diz o arquiteto José La Pastina Filho.

Não é para passear

La Pastina, que já foi superintendente regional do Iphan, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, defende o petit-pavê como símbolo e diz que ele não tem a função de calçada, mas de adereço ao mobiliário urbano.

Como é que é?

O arquiteto cita o caso da Marechal Deodoro, onde o passeio de pedestres é revestido de paver (“peiver” na pronúncia).

O jeito é rezar

Parece um argumento convincente, mas tem lá seus entraves. Por exemplo, em trechos estreitos em que há apenas petit-pavê e em outros onde calçadas não há. Bairros de Curitiba, sem distinção de IPTU, são pródigos nesse exemplo. O que fazer?

Zeladoria presente

Se não há remédio para o petit-pavê nem consenso sobre sua funcionalidade, persiste a manutenção. Calceteiros da Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil (ACGB) vêm zelando para manter o pavimento no seu devido lugar. Seja recuperando-o, seja renovando-o (foto). A lembrar: a ACGB é uma entidade voluntária, sem fins lucrativos.

Pedivela

A propósito de coluna que conta a história da bicicleta – um invento do século XIX -, o leitor Elio Ruzzi acrescenta informação. Diz que visitou mostra de Leonardo da Vinci, em Milão, e descobriu, horrorizado, que os organizadores haviam acrescentado uma “pedivela” ao desenho original do artista italiano – um acessório falso, que jamais foi desenhado por ele, mas acrescentado ao longo do tempo.

Ficou na lenda

Ruzzi chegou a discutir com uma das atendentes, apontando o erro, mas ficou por isso mesmo. Quando a lenda se sobrepõe aos fatos, imprima-se a lenda.

Mato sem cachorro

Abunda em capim gordura e em ervas daninhas terreno do bairro de Santa Felicidade, sem cerca e sem dono, que a regional do bairro (logo ali) insiste em não roçar. Lá se vão seis meses.

Rir e sibilar

Magistrado que mora em residência quase contígua ao terreno registra que viu cobras serpenteando risonhas por ali. Risonhas e peçonhentas. A rua é a Rachid Pacífico Fatuch, que tem nome de vereador.

Coluna publicada no Diário Indústria & Comércio em 22 de maio de 2023.

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