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Postado 14 de novembro de 2023

Abraçar árvores não basta

As chuvas que derrubaram centenas de árvores em Curitiba ajudaram também a naufragar mentes.

As chuvas que derrubaram centenas de árvores em Curitiba ajudaram também a naufragar mentes. Cidade arborizada é sinônimo sim de qualidade de vida, mas é preciso haver cuidado no plantio e na manutenção.

Viver e morrer

Místicos que se abraçam a árvores para extrair delas a melhor energia ou ambientalistas que se acorrentam ao autótrofo para impedir que ele seja arrancado deveriam mirar também em sua condição de seres vivos que, um dia, morrem. De doença ou de caso fortuito.

Pinheiro histórico

Em Cruz Machado, cidade do interior do Paraná, um pinheiro araucária de 42 metros e 750 anos – ou seja, mais velho do que o Brasil descoberto – não resistiu às fortes chuvas e desabou. Detectou-se que seus troncos estavam ocos e que a seiva que o alimentava só corria próxima à casca. Era a crônica da queda anunciada.

Zona rural

O diagnóstico não foi feito a tempo porque não existem regras para isso. Há leis que determinam que árvores não podem ser plantadas a menos de 15 metros das linhas de transmissão de energia. Mas isso só vale para a zona rural.

Elas respiram

Nas metrópoles, há um sem-número de casos de árvores que sufocam porque suas raízes são esmagadas pelo concreto ou pelo asfalto (foto).

Cinquentonas

As árvores de Curitiba foram plantadas, em sua maioria, há mais de 50 anos sem qualquer critério ou planejamento. Não se considerou, por exemplo, que as espécies poderiam ter ciclos de vida diferentes, que se tornavam senis e que estavam sujeitas a parasitas como a erva-de-passarinho, o que explica, em parte, porque tantas árvores desmoronam em dias de chuva ou de ventos fortes.

Símbolo vetado

No Paraná, a Copel monitora 1,7 milhão de árvores. Recentemente a companhia elaborou um guia de arborização de vias públicas para os municípios. Listou 40 espécies de árvores que podem ser plantadas e outras 20 que são desaconselháveis, entre elas o pinheiro araucária, símbolo do estado.

Xiita verde

O controle do plantio, entretanto, é precário e como já se afirmou muitas dessas árvores ultrapassam meio século. Mesmo que se indique a necessidade de arrancá-las, há sempre um ambientalista disposto a amarrar-se em uma delas, desprezando o fato da condição moribunda de seus troncos e galhos.

Solução plausível

Sem dúvida, falta informação. Se a Copel foi capaz de contabilizar as árvores, também pode determinar quais são as espécies, sua idade e seu estado de saúde. Havendo o risco de queda, basta substituí-las por outras afeitas às intempéries.

Coisa de louco

Não há por que acreditar que, com tanta informação disponível, um ambientalista disponha-se a morrer abraçado à planta, em insana solidariedade.

Coluna publicada no jornal Indústria e Comércio em 11 de novembro de 2023

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