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Postado 6 de junho de 2022

Azulejos sim, pichação não

Como lidar com os pichadores? Eis a questão. Em Curitiba, há uma proposta em curso: combater a pichação com murais de azulejo.

Em 2017, o chef Olivier Anquier levou um susto ao avistar o seu prédio vizinho, na Praça da República, em São Paulo, todo pichado. Francês naturalizado brasileiro há 25 anos, Anquier, que ganhou fama apresentando programas de culinária, foi às redes sociais e escreveu um longo desabafo, denunciando o vandalismo. O cozinheiro exigiu, entre coisas, respeito com o lugar que ele havia escolhido para viver e disse que todo cidadão paulistano – que é como se considera – deveria fazer o mesmo. “Somos moradores de uma bela cidade. Precisamos cuidar do que é nosso”.

O post viralizou. Anquier recebeu mensagens de apoio, mas também de protesto. As justificativas eram a de que o “pixo” – na grafia dos pichadores – é expressão artística legítima ou então uma manifestação de revolta. E não avancemos mais no assunto. Pichar pode ter lá seu significado próprio, que foge à compreensão dos não iniciados, mas é em tudo destruição do patrimônio e da coisa alheia.

Diretor do Masp (Museu de Arte de São Paulo) durante 45 anos, Pietro Maria Bardi, inconformado com as pichações em monumentos históricos da capital, encontrou, na década de 80, uma forma inusitada de contra-atacar. Encomendou latas de tinta vermelha e pintou sobre os rabiscos ininteligíveis (a não ser para os iniciados) aquela palavrinha de baixo calão que começa com M…

Como lidar com os pichadores? Eis a questão. E São Paulo padece pela ausência de resposta. Mesmo os grafites autorizados nos viadutos e túneis da cidade não são suficientes para diminuir o número de pichações no patrimônio público e privado e a ocorrência de acidentes e mortes daqueles que se aventuram em alturas vertiginosas para, assim, de modo temeroso – que eles consideram heroico –, deixar a marca de sua tribo, trupe, crew ou seja lá como queiram se autodenominar.

Em Curitiba, há uma proposta em curso: combater a pichação com murais de azulejo. A passos lentos, mas decididos, as paredes da capital vão sendo cobertas ora por poesia, ora por mensagens de gratidão ou desenhos inspiradores.

O último deles, inaugurado há menos de um mês (foto), foi instalado na sede da Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil (ACGB), responsável também pela criação e instalação dos painéis, com o propósito de exibir graficamente as ações de zeladoria urbana da entidade, o que inclui também o combate às pichações.

O mural diz tudo: a associação é responsável por cuidar dos jardins públicos, reparar calçadas e pintar paredes e portas do comércio pichadas. E faz esse trabalho também nas alturas, executado por alpinistas treinados, certificados e munidos do equipamento necessário. Convenhamos: palavras não poderiam traduzir melhor as tarefas diárias da entidade.

Coluna publicada no Diário Indústria e Comércio em 6 de junho de 2022.

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