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Postado 30 de maio de 2022

Duas ou três sugestões ao vice-prefeito

Não faz muito, Paris lançou um projeto em que as calçadas são protagonistas. E Lisboa estuda impedir os automóveis no centro histórico.

Presente na eleição da nova diretoria da Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil (ACGB/Vida Urbana), há pouco mais de uma semana, o vice-prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel, viu de perto um pequeno contributo ao desenho de uma cidade nova. Há 22 anos, a ACGB, que é uma entidade sem fins lucrativos e sem laços econômicos com o município, está comprometida com a zeladoria urbana. Agora mesmo, enquanto escrevo essa coluna no terceiro andar de um prédio localizado na Rua Marechal Deodoro, há um zelador, que é também calceteiro (ou seja, um reparador de calçadas) cuidando de repor as flores em um dos canteiros da via pública.

É uma tentativa, ainda que modesta, de devolver à capital um pouco de vida. Principalmente nas calçadas. Porque cidade boa e saudável é aquela que respira movimento de pedestres. Esqueçam, os leitores, a combinação deprimente de automóvel-shopping-edificações. A ACGB começou quando as empresas perceberam que era necessário cuidar do entorno de seus escritórios e depois do entorno dos condomínios que administravam. Isso significava cuidar das calçadas, dos jardins, da pintura dos imóveis. Assim estimulando também o comércio local e o ressurgimento dos quiosques, dos cafés, das mesinhas no passeio e, por certo, dos pedestres.

Essa deveria ser a meta de qualquer prefeitura e reconheça-se o esforço da atual gestão, porém é preciso admitir que há um longo caminho a ser trilhado. Não faz muito, Paris lançou um projeto em que as calçadas são protagonistas. Nova York vem fazendo isso de maneira exemplar. Até Lisboa, sempre charmosa, sempre modelo, estuda com seriedade a possibilidade de impedir o tráfego de automóveis no centro histórico. E essa ideia já foi acalentada pela administração municipal. Mas como enfrentar a resistência da população?

Talvez com um plano que devolva a vida noturna a Curitiba. E não se trata apenas de resgatar moradias ou mirar em condomínios residenciais. Um quarteirão saudável, com movimento de pedestres de dia e de noite, precisa de comércio e escritórios, sim, mas bares, restaurantes, mercearias e padarias também. Do contrário, é cidade-fantasma. E os fantasmas, ao que se sabe, aparecem à noite.

Não se sabe ainda quais são os planos políticos de Eduardo Pimentel. Aos 37 anos, neto de Paulo Pimentel, ex-governador do Paraná, ele experimenta a condição de vice pela segunda vez. Talvez queira alçar voos mais altos e se esse for o seu objetivo pode muito bem incluir em seu projeto urbano um quadrilátero central de pedestres, calçadas e vida noturna. Basta de carros, concreto armado, ruas vazias e comércio sombrio.

(Na foto acima, o vice-prefeito Eduardo Pimentel – à esq. – ao lado de Cristiane Genari, presidente eleita da ACGB, André Queiroz e Deisi Momm, coordenadora de projetos da associação. CRÉDITO: Divulgação).

Coluna publicada no Diário Indústria e Comércio em 30 de maio de 2022.

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