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Postado 8 de agosto de 2022

O Grande Irmão tudo vê

Já se disse que os casos de pichação cresceram na capital. Os de mendicância também. O Grande Irmão que tudo vê, enxerga muito mal.

O Grande Irmão está de olho em você. Ele e seus assessores diretos estão imbuídos da tarefa de monitorar a capital paranaense em tempo real. O projeto ganhou o nome de Muralha Digital, o baluarte transponível da vida privada. O olho que tudo vê. Se é segurança, então estamos conversados.

Não faz muito, o Grande Irmão compartilhou imagem de suposta gangue atacando, com sprays de tinta, o Memorial de Curitiba. A polícia foi até o local e constatou que eram jovens, um tantinho embriagados, planejando galgar as janelas do prédio. Foram advertidos e mandados para casa. Mas a história do Grande Irmão, tal como a viu, foi publicada pelo Ministério da Verdade com notável eloquência.

De fato, as pichações na capital aumentaram em 72% se comparadas com os números do ano passado. Houve um crescimento de 54 para 93 casos. O Grande Irmão está observando você, mas isso diz pouco, quase nada. O que o novo sistema fez foi registrar maior número de ocorrências, não coibi-las ou diminuir sua incidência. O equívoco está no método. A Justiça tem demandado por medidas socioeducativas e a Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil (ACGB), entidade sem fins lucrativos, vem abrigando os jovens e adolescentes punidos com penas alternativas.

O Big Brother tudo vê, porém tem olhos de cobiça quando se põe a transformar o automóvel, que é cigarro do futuro, em caça-níquel do presente. Acumulam-se os processos de motoristas que recebem multas por trafegarem a 42 km ou 52 km, em vias com limite de 40 e 50 quilômetros, respectivamente.

O Grande Irmão quer educar pela coação, mas permite estacionamento irregular em vias de fluxo intenso ou em avenidas de grande PIB.

Se o Grande Irmão quer zelar pela cidade, o melhor a fazer seria girar as câmeras também para perscrutar a inanição do comércio na região central, os prédios abandonados, os buracos nas ruas, a precariedade das calçadas, quando elas existem, e o abandono generalizado de monumentos e praças.

O Grande Irmão que tudo vê, enxerga muito mal. De chofre, identificou os males de Curitiba. São os andrajosos, que se vestem em trapos, e os vândalos.

Já se disse que os casos de pichação cresceram na capital. Os de mendicância também. Dados da prefeitura mostram que Curitiba tem 2,7 mil moradores de rua, informação contestada pelas ONGs que dizem que esse número pode ser muito maior. É só o que o Grande Irmão consegue ver. Por isso, quando a câmera olhar para você, devolva o olhar. E sorria, porque você está sendo filmado. Sob um ângulo de suspeita.

Coluna publicada no Diário Indústria e Comércio de 8 de agosto de 2022.

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