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Postado 4 de abril de 2022

Geraldo Magela, o tipógrafo da poesia

Morto aos 66 anos, o mineiro que vivia em Curitiba desde a década de 70 foi o criador da Feira do Poeta (foto) no Largo da Ordem.

Morto aos 66 anos na última terça-feira (29), o poeta Geraldo Magela não deixou apenas uma obra literária respeitável, marcada pela poesia, pela dramaturgia e pela prosa transmutada em microcontos. Seu legado foi também o de agitador cultural. Desse que vai às ruas e, como escreveu Wally Salomão, “mete poesia na bagunça do dia a dia”.

MINEIRINHO

Magela, convenhamos, foi mais comedido. Dono de um espírito em calmaria, apesar do turbilhão que o rondava, o mineiro de Guaraciama, município do interior do estado, que viria a desembarcar em Curitiba, no início da década de 1970, aos 16 anos, tornou-se um dos principais divulgadores de poetas e escrevinhadores locais. Caso de Regina Bustolim, José Marins, Paulo Valim, Batista de Pilar e do mais notório deles, Paulo Leminski.

A MÁQUINA

Assim a tipografia entrou na história. Funcionário da Fundação Cultural de Curitiba, Magela conseguiu a doação de uma impressora tipográfica, que se tornaria a principal atração da Feira de Poesia, no Largo da Ordem, dando vida a poemas de vários autores.

CAIXA ALTA E BAIXA

O trabalho era artesanal. As letras feitas de chumbo eram coletadas com pinça em caixas respectivas. As maiúsculas na parte de cima, as minúsculas na parte de baixo – daí a expressão caixa alta e baixa. Que depois eram reunidas em um instrumento chamado componedor, ajustadas sobre uma placa de metal e molhadas com tinta. A tipográfica era semelhante a um grande carimbo. Imprimia-se folha por folha, várias cópias de um mesmo poema.

A RODA REINVENTADA

De um ponto de vista nostálgico, as etapas de transformação do manuscrito em poesia impressa eram por si só arte gráfica. Inimagináveis na era do computador, do celular e da internet, mas palpáveis na ocasião. Magela inventava a roda a cada vez que baixava a alavanca da máquina.

POESIA EM AZULEJOS

Que o artista tenha interferido na cena urbana a ponto de ver uma de suas composições literárias substituir muros degradados ou pichados é só mais um detalhe em uma vida curta e profícua. No ano passado, a Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil (ACGB/Vida Urbana), inaugurou painel de azulejos com um dos poemas de Magela. Questões comerciais, entretanto, fizeram com que o painel fosse coberto. A solução encontrada pela ACGB foi produzir novo mural e reinaugurá-lo.

BARRO E FOGO

Infelizmente Magela não verá essa homenagem (foto). Mas ela ficará impressa em barro, em fogo e em pedra. Um poeta tipógrafo não pediria mais.

Coluna publicada no Diário Indústria e Comércio em 4 de abril de 2022.

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