Postado 30 de setembro de 2025
Depois da tempestade, vem a burocracia
Com 4.600 habitantes, município gaúcho representou o marco zero do apocalipse climático que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, em 2024. Mais um de ano depois, a cidade ainda busca ajuda.
Muçum, uma pequena cidade turística do Rio Grande do Sul, ganhou destaque na imprensa por representar o marco zero do apocalipse climático que se abateu sobre o estado na primeira metade do ano.
GRANIZO E CICLONE
Com 4.600 habitantes, o município submergiu em 29 de abril, depois de uma sequência de desastres que envolveram o pior temporal de granizo de sua história e um ciclone extratropical que inundou 70% da zona urbana.
FUGA EM MASSA
Passados 100 dias do desastre, o município ainda convive com bairros arrasados, lojas fechadas e escolas em ruínas. Cerca de 1.000 de seus habitantes – pouco mais de ¼ da população – foram obrigados a abandonar a cidade e não há data para que retornem.
OUTRA CIDADE
O prefeito de Muçum, Mateus Trojan, de 29 anos, enfrenta agora o desafio de convencer a população restante a transferir suas casas para longe das áreas de risco. Ele estima ser necessário erguer 276 moradias, o que em certa medida significa mudar a cidade de lugar.
O PRÓXIMO CAOS
A burocracia da administração pública, nas três esferas de poder, é um dos desafios a enfrentar. Isso impede que medidas emergenciais sejam tomadas sem que a típica negligência dos governos as empurre para o próximo caos.
MOROSIDADE
Para que se tenha uma ideia do desastre, só agora o governo gaúcho abriu licitações para receber projetos de reconstrução dos municípios. Se parte da população atingida pelo desastre permanece em áreas de risco, há muito a fazer.
SOLUÇÃO SIMPLES
As populações ribeirinhas, no Norte do país, se protegem das cheias dos rios construindo casas sobre palafitas. É uma estrutura precária e pobre, mas pode ser uma solução viável para regiões atingidas pelas chuvas.
IDEIA EXEMPLAR
Claro que não se está falando de palafitas propriamente, mas de “pilotis”, sua tradução em francês convertida em marco da arquitetura moderna. É sobre “pilotis” que prédios públicos como o Palácio do Planalto estão estruturados.
ANTI-INUNDAÇÃO
Prédios podem ser erguidos tomando emprestado o mesmo conceito. O vão livre permite que, em caso de chuvas fortes, a água flua sob a edificação sem abalar estruturas e tampouco inundar residências, lojas, estruturas industriais e repartições públicas.
SEM RISCOS
Claro que não se trata de uma solução para áreas de alto risco. Nesse caso, a solução é mesmo aquela adotada pelo prefeito de Muçum: transferir a cidade para um local onde as intempéries, cada vez mais furiosas, não provoquem calamidades irreversíveis.
EXPOSTOS
A ideia, porém, é sólida. Os “pilotis” são aqueles mesmos pilares de concreto fincados no solo para sustentar a edificação. A diferença é que ficam visíveis.
PROMESSAS, NADA MAIS
Enquanto o desastre climático no Rio Grande do Sul foi notícia na mídia, o governo federal prometeu a cada desabrigado que “todo mundo teria sua casinha”. Trata-se, até agora, de uma promessa vã. O estado calcula que serão necessárias a construção de 42 mil casas. Se o projeto avançar, e há pouca esperança que isso ocorra em curto prazo, ainda há tempo de considerar os “pilotis” como uma medida de segurança para as chuvas que, certamente, virão nos próximos anos.