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Postado 15 de agosto de 2022

A cidade, os garis e os ‘desatentos’

Em 2018 o número de garis (e margaridas) em Curitiba era de 423. Ou seja, o porcentual de profissionais encarregados da varrição aumentou apenas 3,86% em quatro anos.

Curitiba tem 440 garis para varrer a cidade e esvaziar as lixeiras públicas. Estas desenhadas estreitas e esquisitas para que apenas os pequenos detritos sejam nela atirados. Ou isso ou estariam atulhadas com toda sorte de objetos.

Em 2018 o número de garis (e margaridas) era de 423. Ou seja, o porcentual de profissionais encarregados da varrição aumentou apenas 3,86% nesse período.

Se esse pequeno crescimento no contingente de garis está relacionado com a cidade mais limpa ou com o cidadão mais consciente não salta aos olhos. A chuva mais recente que caiu forte sobre a capital apontou os problemas de sempre: alagamentos provocados por bueiros e galerias pluviais entupidos de lixo.   

Lixo de todo tipo, é bom que se diga. Não faz muito (ou faz?) um caixão foi encontrado boiando em córrego da capital depois de chuva caudalosa. Por sorte sem o morto.

A assessoria de imprensa da prefeitura, sempre cuidadosa com as palavras, atribui o acúmulo de resíduos na região central a um certo “cidadão desatento”. Chame do que quiser. No Japão, atirar uma bituca de cigarro na calçada – e os japoneses nunca se renderam às campanhas antitabaco – impõe ao infrator multa pesada. Por aqui, tapinha nas costas.

Os poucos garis que a cidade contrata mais o crescimento da população mais a “desatenção” do sujismundo e não há solução à vista.

Há duas imagens que vem à mente quando se fala na limpeza urbana. A primeira é a de João Doria (foto), vestido em uniforme de gari, logo em seus primeiros e fugazes dias à frente da administração da capital paulista. A outra é a do prefeito Rafael Greca armado com um esguicho de pressão e um caminhão pipa na XV de Novembro. Posaram ambos para foto e nunca mais.

Cada gari percorre, em média, dois quilômetros por dia varrendo calçadas, sarjetas, canteiros e recolhendo o lixo do… desatento. O trabalho se limita ao centro da cidade por causa do grande fluxo de pessoas (todas desatentas). E ainda assim são três turnos diários de varrição – 7 às 15, das 15 às 22 e das 22 às 5. Faça chuva ou faça sol.

É um trabalho sem fim. Garis são Sísifos da mitologia contemporânea. Empurram a pedra até o cume da encosta e ela rola abaixo para que, novamente, repitam sua tarefa. Ah, os desatentos.

Coluna publicada no Diário Indústria e Comércio – 15 de agosto de 2022.

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