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Postado 28 de junho de 2022

O artista e a cidade

Salvador Barbeta transporta a cidade para as telas, onde se destacam (ou se escondem) figuras sem rosto transitando sob a chuva, encolhidas em casacos e com um traço em comum: a solidão.

O aniversário de Dalton Trevisan, o contista curitibano, passou em branco. No dia 14 ele completou 97 anos e a, depender do vampiro e de seus leitores, deve ir longe em sua secularidade. Outro que fez aniversário é o aquarelista Salvador Barbeta (foto) que, há quatro décadas, conta histórias da capital fria, assim como Trevisan, mas de um ponto vista particular: dando tintas ao cotidiano.

No seu varal de aquarelas expostas durante a semana (foto), na Boca Maldita, e no domingo, na Feirinha do Largo da Ordem, as cenas de chuva não são incomuns. As de abandono do espaço urbano também. Barbeta pinta o que vê.

Antes de arriscar a vida na arte, entretanto, Barbeta passou por estágio probatório – que ele definiria como purgatório. Em busca de estabilidade financeira, formou-se em desenho industrial no antigo CEFET e ingressou na indústria projetando peças e ferramentas para máquinas. Mas o trabalho, segundo ele, não fazia dele “um ser humano feliz”.

Barbeta então resolveu correr o risco. Ingressou na Escola de Belas Artes do Paraná – aquela que segue, hoje, à espera de reforma (ver coluna publicada no dia 20) –, onde aprendeu a pintura a óleo, aperfeiçoou técnicas de pintura e apaixonou-se pela aquarela. Foi esta, aliás, que alçou sua carreira.

As aquarelas dão o tom de Curitiba: chuvosa, fria, cinzenta e, ainda assim, poética em sua introspecção. Ao retratar pessoas e paisagens, Barbeta, nascido em 1951, transporta a cidade para a tela em tintas lavadas em que se destacam ou, melhor, se escondem as pessoas sem rosto. Transitando sob guarda chuvas, encolhidas em casacos e cachecóis, ensimesmadas, solitárias.

Se os quadros de Barbeta são a melhor expressão de Curitiba é cedo para dizer. Mas certamente, ele é o artista da cidade. Tal como a vive. De segunda a domingo, de domingo a segunda.

Coluna publicada no Diário Indústria e Comércio em 28 de junho de 2022.

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